segunda-feira, 16 de novembro de 2015

VI - A Batalha de Valverde

A Batalha de Valverde

D. João I e D. Nuno separaram-se em Santarém decididos a dar inicio ao aproveitamento da batalha Real. O Rei dirigiu-se para o Norte do reino enquanto o Condestável dava cumprimento a vontade real ao vadear 0 rio Tejo para sul a invadir Castela em "algara" (invasão) devastadora, conforme moda moura em uso.

D. Nuno no início de Setembro foi de Evora (1) a Estremoz (2) onde reuniu a forca que tencionava levar consigo na empresa (1.000 lanças com 2.000 peões e besteiros). Os preparativos, morosos, duraram ate final do mês e organizaram a hoste em:
- vanguarda na frente, comandada por D. Nuno acompanhado pelo alferes (porta bandeira) Diogo Gil;
- carriagem, a meio defendida por homens de pe e besteiros;
- reguarda, na cauda sob 0 comando do Prior do Hospital Alvaro
Goncalves Camelo;
- uma ala capitaneada por Martim Afonso de Melo;
- outra com Goncalo Anes de Castelo de Vide.
A forca de Estremoz passou por Vila Viçosa (3) e continuou em direcção ao rio Guadiana que vadeou a 2 de Outubro próximo de Badajoz (20) para ir acampar (7) a 3 de Outubro a cerca de 20km entre as moitas da charneca castelhana. 0 local escolhido, como Atouguia das Cabras, Ourem, proporcionou epis6dio semelhante ao levantar-se enorme porco selvagem, que foi morto alancada. O incidente considerado de bom agouro causou alegria por prever o êxito da incursão. A hoste no dia seguinte foi para Leste, entre Olivença (5) e Valverde de Langanes (6) ate Almendral (8), distante 6 léguas, onde dormiu, "talando" desvastando tudo o que encontrou no caminho.

A forca disposta para a guerra partiu a 4 de Outubro para Leste em direcção a La Parra (9), 4 léguas curtas, onde viu no alto da serra Maria Andres alguns cavalos do Mestre de Alcântara. O castelhano Martim Anes, O Barvuda, entretanto olhava de longe quando vinha do seu castelo em Feria (10) com 300 lanças, para vigiar a invasor, picar-lhe a retaguarda pronto a atacar quando chegassem as esperados reforços, D. Nuno com o inimigo avista, refugiado nas alturas a espiar, com enorme quantidade de gados e despojos, seguiu para Sul para Zafra (11), a 3 léguas, por Fuente del Maestre (12), 2 léguas, no curso do rio Matachel, Usagre (13), ate Villagarcia de la Torre (14), próximo de Lherena (15), acastelado mas deserto, por a guarnição apavorada ter fugido ao saber a chegada de D. Nuno.
Pouco depois um alarido das alturas anunciou a aproximação do emissário do Mestre de Santiago, o Barvuda, que trazia um feixe de vimes, em que cada um representava uma espada. Vinha em nome dos senhores de Castela, designadamente o mestre de Calatrava D. Goncalo Nunes de Gusmao, desafiar o Condestavel de Portugal. Apos a entrega da última vara, concluída a longa enumeracao dos desafiantes, D. Nuno agradeceu os desafios feitos que lhe davam oportunidade de afrontar os desafiantes, mandou dar cem dobras ao arauto e despediu-o com a resposta que aceitava o repto e contava com a batalha prometida.
Partiu depois para Magacela (16) onde havia um "porto", a 15 léguas, para chegar ao Guadiana que tencionava vadear. No dia seguinte foi para Villanueva de la Serena (17), desceu pela margem esquerda do rio, ao lado de Medellin (18), na procura de um bom vau. a Mestre de Alcântara entretanto com a hoste aumentada para o triplo perseguia atento o português sem tomar a iniciativa de
atacar.

O rio Guadiana entre Medellin e Merida descreve para Sul um arco de volta aperta da que desemboca na foz do ribeiro Matachel.
Ajusante, na margem oposta, fica o promontório de Valverde de Merida (19), em cujo sope do lado poente fica Merida ao lado do Guadiana.
D. Nuno ao acampar na margem esquerda ajusante da boca do Matachel viu nas alturas afrente a forca do Barvudaque comum milhar de lanças esperava a sua chegada. As forcas espiaram-se mutuamente durante o dia e o Condestavel aproveitou a noite para preparar a hoste para o combate do dia seguinte. Afonso Pires, O Negro, "escudeiro de boa nota", referiu a D. Nuno preocupação na diferença das forcas em presença 'los castelhanos aqui ao pé de vós do mais bastos que as ervas".
O reforço castelhano chegado pela "noite velha" após tomear a hoste portuguesa foi ocupar os socalvos do promontório fronteiro.
Os combatentes agrupados eram tantos que se estimou passarem de 50 para 1, pois "era muito mais gente que na da batalha real".
A situação, inversa do confronto de S, Jorge, obrigava D. Nuno a forcar a passagem por posição forte e bem preparada ocupada pelo opositor decidido.
Ao romper a madrugada a hoste portuguesa em quadrado partiu na procura do vau, perigoso e bravo, distante légua e meia do arraial onde tinha pernoitado. Ao chegara margem do rio viu-se cercada de todos os lados.
O inimigo esperava encastelado nos socalcos da margem direita, frente e margem esquerda para apertar a hoste portuguesa numa temível tenaz de ferro.
A desigualdade da situação notada pelo cronista que referiu "os portugueses pareciam no meio do inimigo uma pequena eira em espaçoso campo ".
D. Nuno tinha necessidade de vadear o rio apesar dos dez mil castelhanos que esperavam na outra margern. Após concertar a vanguarda, a reguarda, alas e metade da carriagem com gados e prisioneiros, a hoste avançou cerrada, impenetrável, repelindo a nuvem de projecteis vindos de todo o lado (setas, pedras, virotas).
Impetuosa continuou a marcha, rompeu a encosta da margem direita, subiu os socalcos na procura de chão firme para combater, a forcar os castelhanos a sair dos altos cabeços que ocupavam. Ao verificar que na margem Sul o resto da forca lutava com grande dificuldade face aos ataques castelhanos deu ordem para ficarem quietos enquanto fazia a sua recolha. No regresso ao notar um ajuntamento de gente grada de Castela em volta do Mestre de Santiago, D. Pedro Moniz, Mestre de Alcantara, onde estava Martim Anes, com muitos outros senhores e capitães, ordenou a continuação do ataque. Urna seta entretanto veio cravar-se num pé, não o impedindo de acorrer aonde era mais necessário. O fragor da luta dificultou 0 entendimento do desaparecimento do Condestavel que conforme o cronista foi encontrado por Rui Goncalves a rezar com o relicário do rei de Castela tornado na batalha real, oferecido por D. João I. Finda a oração voltou ao combate e deu ordens para retomar o ataque, guiado pela bandeira branca dividida em quatro seguido pelos companheiros arremeteu com fúria a forca do Mestre de Santiago, morto ao ser derrubado da montada, e depois toda a gente inimiga. As hostes dos mestres da cavalaria castelhana e mais fidalgos, derrotadas, fugiram a galope pela campina, como medrosos rebanhos tresmalhados.
A batalha estava ganha, o campo livre. Consumara-se o milagre da Fe e Vontade. Nuno Alvares pernoitou em Valverde, na manha seguinte passou ao lado de Mérida e foi dormirem local próximo.
Desceu depois com vagar o curso do Guadiana ate Elvas (4) onde entrou após 18 dias em correria com saque farto.
A luta pela independência do reino de Portugal estava finda e consolidada.

PARA SABER MAIS
LOPES, Fernão, Cronica de D. João I, Livraria Civilização-Editora, 1990; MARTINS,
Oliveira, Páginas Escolhidas, editorial Verba, 1992.


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