domingo, 15 de novembro de 2015

I - Idade Média

A Idade Media

Sabemos a importância em conhecer o passado para entender melhor o presente e preparar o futuro.
"Jacques de Goff”,
Conhecido estudioso medieval, ajuda na apresentação do milénio medieval.

"Justa a Cavalo" ilustração Vítor Portugal


Os historiadores para explicar melhor o tempo anterior dividiram-no em períodos sucessivos, bem definidos, cada um com características próprias. Vamos referir com brevidade a Idade Media, considerada por muitos tempo de transição, intervalo de qualidade inferior, a separar períodos com interesse de características bem definidas, como a:
- Antiguidade, iniciada 3 000 anos antes de Cristo (A.C.), marcada pelo aparecimento da escrita e continuada ate a derrocada do Império Romano do Ocidente no ano 455 (séc. V);
- Idade Moderna, nascida com O Renascimento, finais do séc. XV, quando poetas italianos, auto denominados humanistas, sentiram ser necessário reencontrar outra civilização, mais refinada, que terminou com a Revolução Francesa em 1789 (séc. XVIII);
- Idade Media, milenar, localizada entre os períodos referidos, no inicio do séc. V e fim balizado pela queda de Constantinopla em 1453, (séc. XV). A derrocada do Império Romano permitiu a invasão da Europa por povos que viviam para alem das fronteiras “limes” estabelecidas por Roma, que os designava por “bárbaros”, com destaque dos germanos vindos do Norte, celtas de Oeste, húngaros e eslavos de Leste.
As deslocações pacificas de alguns mercadores, apenas para comerciarem, foi aproveitada para se fixarem nos novos territórios, apetecíveis e amenos da Europa do Sul, temperados pelo mar Mediterrâneo.
Império Romano entretanto no séc. IV (final) e séc. V (inicio), decidiu abandonar o culto do paganismo de muitos deuses e converteu-se ao cristianismo dum só Deus, que compreendia três pessoas (Pai, Filho e Espírito Santo). A imagem dominante deste tempo, período de enorme sacrifício, obscurantista, foi marcada por obediência subserviente e fé num Deus severo que esmagava a razão do Homem, patente no despojamento do local do culto. o templo até ao séc. XII, em estilo românico, tinha paredes sólidas e baixas, marcadas por abóbadas redondas de berço, suportadas por colunas grossas a definir espaços fechados e pequenos. Foi substituído pelo gótico, edificação arejada, ampla, alta, adornado com paredes rendilhadas, rasgadas por vitrais refulgente de luz e cor, espelho do saber, glória e amor do Divino pelo homem.
S. Bernardo, prior do mosteiro de Alcobaça, contudo limitava o uso da cor para evitar distrair os monges enclausurados. O Deus justiceiro, severo, inspirador de temor e respeito, foi substituído pelo Deus benevolente que de braços abertos acolhia o homem nas suas limitações, a quem oferecia amor, perdão e bondade em partilha amiga sempre disponível.
A nova situação exigia outro lugar de culto, de comunhão pacífica, que transmitisse aos crentes uma imagem da grandiosidade, paz e glória do Criador, numa visão expressiva duma bem-aventurada vida eterna. A Igreja, em renovado espaço, feito a medida da natureza e circunstância do homem, deu início a celebração do amor ao Divino.
A Idade Media presta-se contudo a interpretações quase antagónicas:
- para uns foi um tempo ignóbil, fundamentalista, marcado por relações desumanizadas desnecessariamente exigentes, rudes, entre o senhor feudal e o servo da gleba (jornaleiro), assim como entre Deus e o homem, violento na acção punitiva face a judeus e heréticos, na conduta de cruzadas ríspidas contra muçulmanos, estático ou antagónico a evolução da cultura e da arte, enfim da real valorização do Homem, ser consciente e em potencia boa.
-para outros foi o momento gerador de luz e espiritualidade, "na procura do caminho adequado", onde a vida pulsou autentica, bela e magica, configurada em D. Nuno Alvares Pereira, que atrai e apaixona a juventude, pois tratava de cavaleiros heróicos e generosos, qual "Ala dos Namorados", em nome duma causa, justa e digna, face as suas damas, mostravam junto de castelos, o valor em torneios e justas; de altas catedrais que procuravam elevar o Homem a Deus; de jograis e trovadores que cantavam o amor platónico, casto e puro, alheio a interesses ou prazeres carnais; de actos heróicos ao serviço de causas fraternas; de peregrinações, feiras, convívios e manifestações populares que deram forma e uniram as gentes medievais dando origem á Europa fraterna que queremos continuar a ser, e bastante mais, e a procura do Santo Gral, cálice por onde Jesus bebeu na última ceia com os apóstolos, que originou o espirito da cavalaria, orientou, conteve e impeliu o comportamento cavalheiresco, em particular de D. Nuno; da lenda dos prodigiosos cavaleiros da Távola Redonda; do romance dos amores impossíveis, como o de Tristão e Isolda; de Anjos e Santos milagrosos; de seres monstruosos, diabólicos, ocultos nas entranhas da terra em oposição a fadas benfazejas, luminosas, em defesa do bem e da virtude, que continuam a habitar o nosso imaginário infantil e juvenil.
A Europa que conhecemos, onde vivemos e labutamos apareceu na circunstância, nascida e consolidada em guerras crueis, sobretudo na labuta comercial, marcada por inesgotáveis caminhos em encontro de cultura e civilização europeias, expressas na diversidade de países e línguas que hoje convivem no seu seio.

PARA SABER MAIS
GOFF, Jaques Le, A Idade Media para principiantes. Temas e Debates

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