I - ORIGEM
O
homem ao verificar que sozinho seria incapaz de sobreviver, juntou-se a outros
seres humanos, para em conjunto garantir alimento, agasalho, segurança e
procriação. A decisão permitiu famílias ou clãs (com antepassados comuns) que
se fixaram no terreno para erguer habitação, aldeias, burgos (cidades) e
sobreviver com a troca de alimentos entre si. Os burgos na Europa romana,
ligados por vias muito utilizadas, eram acrescentadas por nova rede de caminhos
ligados por pontes onde o passante era obrigado a pagar portagem mesmo sendo
feirante. Os reis e senhores da terra também mandaram melhorar as vias mais
antigas, fazer novas, para controlar ou defender o reino em colaboração com a
igreja a facilitar o acesso a peregrinos aos santuários ou locais de culto. O
trânsito comercial terrestre contudo continuava difícil e pouco praticado,
devido à insegurança, custo elevado das portagens e frequentes altos. A gente
do campo cultivava, próximo do local onde morava, a maioria dos alimentos
necessários à alimentação, que por se estragarem com facilidade eram em pouca
quantidade e comerciados com os vizinhos mais próximos. Os cereais, base da
alimentação da época, eram acompanhados por vezes com carne das aves e peixe
apanhado nas águas mais próximas. O sal foi ganhando importância por conservar
a carne e o peixe, só ultrapassado por especiarias vindas do distante Oriente,
que dissimulavam o mau sabor dos alimentos quase sempre pouco frescos.
A Península ibérica e a região mediterrânea, em volta
do Mediterrâneo, dispunham de alimentos próprios como azeitona, azeite, mel,
fruta (laranjas, tangerinas, limões), passas, nozes, amêndoas, pinhões, vinho
etc. que pela qualidade e sabor eram muito apreciados e gulosamente consumidos
na Europa. Os vendedores ambulantes levavam a mercadoria de aldeia em aldeia,
em carroções de quatro rodas puxadas por animais (asnos, mulas, cavalos e
raramente bois por serem caros e de andar lento. Os feirantes passavam muito
tempo em transito, assim procuravam meios práticos para garantir segurança,
transporte e facilidade de venda em locais próprios, conforme desenho da época
que mostra a cobertura das carroças como protecção do estado do tempo. O
transporte aquático (fluvial ou marítimo), nem sempre possível, cómodo, rápido
e barato por os barcos levarem mais carga o que explica a localização e êxito de
muitas cidades nas margens ribeirinhas. A actividade comercial originou o
nascer da revolução comercial e deu origem ao sistema bancário. As feiras e
mercados, diferentes pelo tamanho, natureza e periodicidade serão referidas de
modo breve:
- mercado, no princípio da Idade Média (inicio
do séc. X) era uma reunião de mercadores
locais que vendiam alimentos a residentes e de lugarejos próximos. Os servos da gleba (camponeses)
vendiam o produto próprio da estação, aves de capoeira, ovos, cabritos coelhos,
etc. Podia ser diário, semanal ou quinzenal. O comércio limitava-se à venda a
retalho, tinha importância local, pois movimentava-se por norma pouco dinheiro;
- feira, resultou da acção conjugada de
comerciantes que formavam um centro comercial de troca por grosso, com
interesses de elevado número de feirantes que transaccionavam produtos de
regiões distantes, além fronteiras. Surgiu no séc. XIII a comerciar em larga
escala, de preferência Maio e Outubro, produtos de consumo pouco habitual
(especiarias, metais e tecidos) em actividade que podia prolongar-se por
semanas. A natureza, tamanho e complexidade eram obstáculo à preparação e
realização anual, no mesmo local, vezes seguidas. Despertava o interesse de
grandes comerciantes, parte importante do negócio (produção, distribuição e
consumo) em que o valor económico envolvido podia afectar a prosperidade de uma
grande região ou mesmo um país inteiro. Apareceu na Europa Ocidental medieval
saída da indolência económica em que estivera mergulhada após a invasão
islamita interromper a relação comercial com o Oriente. O renascimento da actividade
foi ajudado por cerimónias de culto e festas religiosas, poi a igreja desempenhou
papel decisivo na criação da “paz temporária” em vigor no período das feiras,
que permitiu desenvolver a actividade comercial. As romarias, peregrinações e
outras actividades atraíam romeiros de lugares distantes e como cada um era
quase mercador as reuniões eram também lugares de troca de produtos. Muitas
feiras nasceram junto ao templo dedicado a santo venerado. Em Portugal a maior
parte das feiras estava relacionada com festas religiosas, com a Igreja a
impedir feira ou mercado no domingo, dia dedicado ao serviço de Deus e descanso
semanal.
II – IMPORTÂNCIA
A
actividade feirante, importante na organização medieval, época que impedia a
circulação de pessoas e mercadorias, era dificultada por falta de caminhos,
insegurança, impostos de circulação: peagem (pessoas) e portagem (mercadorias).
O mercado e feira, significativas manifestações económicas e sociais, derivaram
da necessidade da troca de produtos (alimentares e outros) que obrigavam à
realização periódica em lugares que facilitavam o negócio.
Portugal, a partir do séc. XTV (início da expansão
marítima conduzida pela dinastia de Avis) funcionou mais como zona de passagem
do comércio marítimo que como região de produção que criava e preparava os
produtos. A segurança e privilégios necessários estenderam-se pelo reino a
permitir significativo e permanente aumento comercial. O local da feira por
determinação real era abrangido pela “paz da feira” que proibia actos hostis
(vinganças ou lutas) e punia com severidade quem a não respeitava. A
autorização, representada por símbolo (cruz, pano ou chapéu) era presa no cimo
dum pau comprido içado no início e arriado no final da actividade. Os feirantes
começaram com privilégios (não serem perseguidos ou presos por delito cometido
na paz da feira, etc.). Os reis para facilitar a esta actividade criaram a
“feira franqueada” (dispensava o pagamento de imposto para comerciar) conforme
carta de D. João I (1413) para o mosteiro da Batalha. O local escolhido, defendido
por muros (castelo ou cerca) em praça protegida ou em “chão da povoação”. A
casa real portuguesa atenta conforme atestam os diplomas dos reinados de D. Afonso Henriques a D.
Fernando “garantiam protecção e segurança
a feirantes e mercadorias, proibição de serem perseguidos e apreensão dos seus
bens, durante a feira como uns dias antes do seu princípio e alguns depois de
ela terminar”. D. João I em carta de feira de Tomar (1420) aumentou os
privilégios, garantiu a feirantes que não podiam ser presos nem acusados
doutros delitos que não fossem praticados na feira e concedeu autorização para
porte de arma e utilização de qualquer montada. A feira, centro de troca de
mercadoria, foi acontecimento jurídico e comercial saliente, que permitiu o
desenvolvimento económico, em contribuição para o sustento e fortalecimento da
autoridade real e concelhia. A “carta de feira” não apareceu apenas por
iniciativa de rei mas intervenção do Conselho que impulsionava a decisão real.
O interesse comum era aumentar a população local e aumento de receitas para
estimular o comércio local. Cumpriu valiosa acção social e cultural pelo acesso
a noticias e conhecimento oriundo de áreas distantes (colheitas, catástrofes,
saberes, etc.) de tudo que é do interesse do povo em geral. Aproximou os homens
entre si, motivou solidariedades, criou interesses idênticos, ajudou a criar a
cultura idêntica. Melhorou a comunicação, aumentou os agregados humanos e a
construção de inúmeros chafarizes. As pedras do mosteiro de Nossa senhora da
vitória, na Batalha, “amarelecidas pelo tempo, ganham maior significado ao
lembrar que a construção da capela do infante D. Henrique foi possível com o
dinheiro feirante da feira de viseu”.(finais do séc. XIV).
III – FEIRAS
MEDIEVAIS DO DISTRITO DE LEIRIA
A
referência breve ao comércio medieval e importância na actividade dos portugLiueses,
leva à evocação da actividade feirante:
Localidade
|
Ano
|
Rei
|
Tipo de feira
|
Leiria
|
1284-1285
|
D.
Dinis
|
|
Ourem
|
1367
|
D.
Dinis
|
|
Batalha
|
1413
|
D.
Joao I
|
Franqueada
|
Pombal
|
1442
|
D.
Afonso V
|
Franqueada
|
PARA SABER MAIS
- RAU, Virginia, Feiras
medievais portuguesas , Subsidios para o seu estudo. Editorial. Presença.1982;
-SERRÃO, Joel, O
carácter social da revolução de 1383,Ed.Horizonte, 6ª Ed. Lisboa,1985.
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