I
- FUNÇÃO, CONSTITUIÇÃO E DESIGNAÇÃO DE ELEMENTOS ARQUITECTÓNICOS
O castelo altaneiro é refúgio dum
senhor da guerra que aproveitava para dominar o espaço em redor. Sobreviveu a
evoluir na adaptação a novas armas em função ao terreno escolhido para edificação.
É construção fortificada típica medieval, composta por variados edifícios com
funções próprias, cercados por muralha reforçada com torreões espaçados, também
ameados, a criar espaços fechados ao exterior. Tem características próprias da
região onde foi implantado como o castelo ibérico cristão de três pátios:
-
Baixo, albacar, refúgio de moradores próximos fugidos da guerra com
haveres e gados (vacum) onde em tempo de paz se treinava o uso de diversas
armas;
-
Intermédio, da alcaidaria, onde o alcaide reunia e dava orientação à sua gente
para assegurar a defesa possível;
-
Superior, posto de comando junto da torre de menagem, último reduto da
defesa.
Construído
em lugar alto, ajudava os moradores a lançar projécteis do alto das muralhas e
dificultava a acção dos atacantes cansados pela subida ingreme para se
aproximarem do castelo.
O
rei na Península Ibérica, utilizava o castelo para garantir a organização,
administração e defesa deste centro dinâmico do desenvolvimento de lugares
edificados que facilitava o crescimento económico, administrativo e social do
reino. As altas muralhas reforçadas com torres variadas, afastadas entre si,
coroadas de ameias, eram o principal meio de defesa que permitia observar de
longe o espaço em redor. Robustas, espessas, de dois metros e meio, em
”argamassa da época” (cal misturada com areia e água), eram defendidas na parte
mais exposta pela “cava” ou fosso para manter o atacante à distância e impedir
a construção de túneis. A vigilância e o controlo do espaço exterior eram
obtidos do caminho protegido no alto das muralhas, ajudados por “seteiras” (fendas verticais para ver
à distância e horizontais a utilizar em direcção), por vezes cruzadas entre si.
Alargadas para dentro facilitavam a utilização de arcos e bestas que disparavam
setas e virotes. A entrada principal, alvo prioritário do invasor, merecia
atenção particular do defensor que a reforçou com a “ponte levadiça”
(plataforma de madeira em ponte para atravessar o fosso) levantada no ataque e
robusta grade vertical de ferro e madeira dura (carvalho) que terminava em
ponta na extremidade inferior, manobradas do interior por dispositivo mecânico.
A muralha protegida por “barbacã” (muro
exterior, mais baixo, próximo), primeira defesa, a formar outro anel (completo,
parcial ou limitado à porta que defendia designada por “barbacã de porta”).
A
“torre de menagem”, símbolo guerreiro,
emblema da autoridade feudal e instalação pessoal do “alcaide” (governador, senhor e comandante da guarnição do castelo)
e família, servia como posto de comando. Alta com cerca de dez a vinte metros
permitia dirigir a defesa e atingir com projécteis o espaço envolvido pelas
muralhas. Auto-suficiente, preparada para resistir ao assaltante até chegada de
reforço, tinha uma entrada, elevada, a vários metros do solo, que exigia escada
de madeira, recolhida em caso de ameaça. Dispunha de vários pisos, com
serventias diferentes:
-
piso térreo, sem aberturas servia como prisão, armazém,
cisterna ou paiol;
-
1º piso, com porta de entrada
e seteiras servia de sala de audiência;
-
pisos superiores, arejados e
seguros eram alojamento para o alcaide e família ou armazém de equipamento mais importante à defesa.
O
entendimento da complexidade da edificação convida a explicar alguns elementos
arquitectónico, referidos com brevidade:
-
“torre
albarrã”, distante, ligada à muralha por pequena ponte de pedra,
barrada para evitar a conquista do
castelo, utilizada quando o atacante se
preparava para escalar e iniciar o ataque;
-
“couraça” ( torre redonda de origem árabe) em local necessário á protecção
de algo importante, vulnerável e próximo (poço).
-
“cobelo” (torre redonda) que facilitava
a observação, o uso das armas em várias direcções e o ricochete dos projécteis
do inimigo;
-“pano de muralha”, muralha compreendida entre dois torreões;
-
“porta da traição”, pequena
porta oculta ou dissimulada unto ao solo
ou pouco acima, utilizada pelo defensor para fazer “sortidas” (ataques de surpresa) ao atacante ou fuga quando verificavam a impossibilidade de defesa.
A
importância do castelo resulta da natureza da construção e localização valorada
pela distância de outros mais próximos. A observação atenta da fronteira de
Portugal permite verificar que na época era defendido por castelos dispostos em
“linhas de detenção” para deter o
invasor, que as cidades importantes, merecedoras de mais atenção, estavam
rodeadas por castelos dispostos em “defesas
de profundidade”, uns atrás dos outros, para orientar, dificultar ou
impedir o acesso do atacante.
II-
EVOLUÇÃO DO CASTELO
A silhueta altaneira do castelo é
indício e fonte de informação militar, politica, social económica e cultural,
confirmado por Mário Barroca, historiador, ao referir que ” ajuda a entender o território pátrio”. A evolução dos castelos devida
pela necessidade de controlar o efeito de novas armas e permitir o cumprimento
da missão para que tinham sido construídos. A alteração, lenta no tempo, será referida
com brevidade nas características mais salientes de cada fase;
Castelo românico,
do séc. XII, para resistir a cercos demorados. A torre de menagem era quadrada, central, e a muralha
alta, ameada, com “ adarve” (caminho da ronda), reforçada em cada canto com torreão quadrangular, que
apresentava seteiras a alturas diferentes.
Castelo gótico, do reinado de D. Diniz,
apresentava as características:
-
torre de menagem, poligonal, junto da
muralha a permitir participação mais
eficaz na defesa, mais grossa, poligonal, para
melhor desempenho;
-
as outras torres “adoçadas”(encostadas
à muralha) são mais numerosas para dificultar a acção atacante como escalada ou abertura de túneis;
- “balcão”(pequeno
varandim com ameias) apoiado em ornatos salientes de pedra com “matacães”(aberturas circulares no chão
usadas para lançar projécteis sobre o
atacante ( base da muralha e entradas);
-
“barbacãs”, parciais ou extensas
protegiam as muralhas como obstáculos que
canalizavam, atrasavam ou impediam a aproximação dos atacantes.
-“ fortificação abaluartada”, surgiu em finais do séc. XIV nos reinados de D. Fernando e D. João I, com a
utilização de armas “pirobalísticas” (de pólvora), que obrigou a grandes
alterações nos castelos edificados ou à construção de outros preparados para utilizar as novas armas e suportarem com
êxito o efeito dos projécteis. A alteração consistiu na redução em altura,
paredes exteriores mais grossas e inclinadas na vertical e horizontal para serem
alvo menor, suportarem o impacto e facilitarem o ricochete dos projécteis. As
torres foram esquecidas para sempre e procurou-se utilizar as armas de pólvora
em favor do defensor pela adaptação das fortificações de modo a serem utilizadas
com êxito.
III-
O CASTELO DE PORTO DE MÓS
O castelo senhorial de Porto de Mós,
localizado próximo de S. Jorge, campo onde se travou a batalha Real, é
referência oportuna. Encavalitado no alto de outeiro de 148 m de altura,
sobranceiro ao rio Lena, onde foram encontrados numerosos achados e vestígios
de épocas remotas, permitem concluir que já era importante à chegada de romanos
que o teriam ocupado, transformado em base militar e centro político de alguma
importância.
D.
Afonso Henriques garantiu a segurança da corte em Coimbra, com a conquista de
Leiria e dedicou particular atenção aos castelos de Montemor e Soure, profunda
penetração em terra moura. O campo cristão em faixa a Sul do rio Mondego, de
difícil controlo, importante como núcleo de defesa, com os castelos de Leiria, Ourém e Porto de
Mós. Fuas Roupinho, alcaide do castelo
de Porto de Mós, teve acção importante, mas após a sua morte os moiros
conquistaram e destruíram o castelo.
D.
Sancho I em 1200, mandou reparar e ampliar o castelo e construir cerca
amuralhada de protecção em volta do povoado.
D.
João I e D. Nuno na crise de 1383-1385 prepararam a hoste de Portugal para a
batalha Real. Utilizaram Porto de Mós como “ basse de ataque” donde se fez o
reconhecimento do terreno, foi organizada e recebeu as últimas ordens. O
castelo, sentinela vigilante, sobressia no casario que a Sul, a seus pés,
parecia prestar vassalagem. Pentagonal tem em cada canto torre encimada por
pináculo verde e apresenta ampla varanda, debruçada sobre a porta principal que
permite repousar a vista no verde mimoso do vale, limitado por montes propícios
a animadas ”montarias” (caçadas).
O
terramoto de 1755 provocou enorme estrago que muitos anos depois se procurou
reparar. A superfície exterior com as torres e muralhas coroadas de cachorradas”
(pedras salientes) reforçada com paredes salpicadas de janelas e portas
góticas, algumas com colunas de “capitel” (parte superior da coluna) finamente
trabalhados provocam agradável efeito decorativo. As seteiras e janelões, como
olhos vigilantes, parecem estar atentas aos locais com mais possibilidades de
terem sido utilizadas nos ataques inimigos A natureza ingreme da elevação
aumenta o valor defensivo do castelo, que dispensa a protecção do fosso e ponte
levadiça. Os atacantes após difícil l subida tinham de enfrentar a pesada porta
de ferrolho reforçada com forte grade enquanto suportavam densa chuva de
projécteis (pedras, virotes, setas, líquidos a ferver, etc.) do cimo das
muralhas com invulgares ameias horizontais que permitiam o lançamento em
segurança.
PARA
SABER MAIS
-
BARROCA, Mário, Jorge, Do castelo da
reconquista ao castelo românico, Direcção do Serviço Histórico - Militar,
1991;
-
MONTEIRO, João, Gouveia, Os castelos
portugueses nos finais da idade Média, Faculdade de Letras da
Universidade de Coimbra, Ed. Colibri;
-
NUNES, António, Pires, Dicionário
temático de arquitectura militar e arte de fortifica. ,Direcção do Serviço histórico.
militar, 1991;
-
RAMOS, Luciano, Justo, Castelo de Porto
de Mós, Câmara Municipal de Porto de Mós. 1971.
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