domingo, 27 de dezembro de 2015

XIII - Escrita Medieval

O costume de alindar o texto com desenhos é muito antigo pois apareceu no Egipto no ano 2000 A. C. conforme o "livro dos mortos".
Bizâncio, capital do Império Romano do Oriente, no séc. XV, teve muita influência em várias escolas (arménia, palestina, russa, síria, etc.) e deu origem no Ocidente à técnica da iluminura que progressivamente foi ganhando adeptos em grande número. Começou com desenho colorido da letra inicial, maior que as seguintes. Manuscritos irlandeses do séc. VII já apresentavam o texto dividido em partes cujo início era assinalado por uma grande inicial, colorida, enfeitada com linhas entrelaçadas, adornada com figuras de animais. O tamanho da letra dependia da posição do desenho, conforme às regras de decoração da época. A ornamentação, ilimitada, (miniatural ou a ocupar a página) em tapete verde, apresentava desenhos abstractos, como os tapetes orientais, ou pequenas iniciais em azulou roxo. As margens (parciais ou totais), decoradas de modo simples ou complexo, em alegre mistura de folhas (acanto ou hera) com aves ou animais de todas as espécies acompanhadas com desenhos de elementos fantásticos, em cores vistosas, reservando a dourada para a página inicial.
O obscurantismo, marca da Idade Média, alegrou-se com o colorido das iluminuras delicadas que ilustravam os textos escritos em pergaminho. A manifestação artística (desenho e pintura) importante, pela estética e informação partilhada com gerações vindouras que assim conheciam variados conceitos (sociais, económicos, políticos, etc.) presentes na labuta diária representada, sobretudo pelo entreabrir da porta do sonho que dava acesso a mundo para além da realidade. Os manuscritos iluminados (pinturas de cores vivas com o texto destacado em negro) apareceram na Europa na queda do império romano, ano 455, e foram executadas até ao renascimento no séc. XV.A técnica praticada na Europa, executada de modo diverso, devido a características de cada centro de produção (ilustrava os pergaminhos) impedirem a integração.
Os exemplares são únicos, merecedores de atenção particular pela diferença dos tratamentos recebidos.


A história do documento medieval escrito, novidade na época, foi marcada por factos que influenciaram a execução evolutiva, como o "códice" (tábua com cera onde se riscavam as letras com estilete), suporte da escrita unido a outros formou uma espécie de caderno. Antepassado do livro marcou o formato dos documentos da época, aliado ao poder eclesial, centro de cultura, influenciou a execução dos códices medievais nos períodos:
- conventual (início do séc. V a metade do séc. XII), juntava a produção de documentos no "scriptorio" (gabinete onde eram escritos) dos mosteiros;
- laico (a partir do séc. XII), as universidades surgidas, mesmo portuguesas (Lisboa em 1288 de Coimbra em 1537), escreviam fora dos mosteiros. A tarefa, trabalhosa, difícil, levou a especializar artífices para executar várias fases do trabalho, em grémios livres ou encomenda (casa real, nobreza, universidades, burguesia endinheirada, etc.) na procura de diferentes dos tradicionais escritos litúrgicos. O trabalho, fatigante, lento, por etapas, executado por sucessivos artistas que iam à vez realizar a tarefa que lhes competia. Começava com a preparação do suporte da escrita, folhas de pergaminho, (peles de cabra, carneiro, ovelha ou cordeiro) preparadas para serem escritas. Mergulhadas antes e durante dias em água aquecida.
O monge copista (copiava os textos) iniciava então a importante tarefa que regulava o trabalho do artista seguinte.
O iluminador (desenhava e coloria o texto) com ornamentação adequada.
A tarefa, meticulosa, executada com o texto escrito, exigia planificação muito cuidada e acertada entre ambos, de modo a definir com precisão os espaços em branco para as ilustrações. As tintas - obtidas com química rudimentar, sem base científica- eram próprias da época, sendo diversas utilizadas. A tinta "negra" de carvão, preferida, era preparada com:
- lenha ou negro de fumo misturado com goma-arábica;
- metal (sulfato de ferro com ácido tânico da madeira de carvalho juntos com goma arábica, coagulante). A reacção química produzia cor negra, translucida e mais brilhante que a anterior.
A tinta "roxa", segunda mais utilizada (cabeçalhos, títulos, rúbricas, iniciais) era obtida com a mistura de sulfato de mercúrio, clara de ovo e goma-arábica;
A tinta "verde" e a "azul" eram utilizadas com menos frequência.
As canetas, de cana ou pena de ave (ganso, pato, pavão) eram feitas pelos copistas utilizadores que se esmeravam na sua execução.
A raspadeira, indispensável, utilizada com frequência, tinha variado uso (afiar a caneta, eliminar com rapidez e facilidade os borrões antes da tinta secar e segurar o suporte da escrita a evitar riscos importunos).
A pedra-pomes ou vidro moído com miolo de pão e gesso eram utilizados no final do acabamento para eliminar sujidade ou gordura da folha de pergaminho de modo a ter apresentação impecável.
A execução da obra, antecipadamente negociada com precisão entre cliente e equipa executante, para evitar desacertos ou opiniões diferentes que por norma originavam atritos, atrasos e alteração de custos.
A protecção da obra acabada (livro) e facilidade de utilização eram obtidas com ordenação das folhas cozidas em caderninhos, no fim encadernadas.
O local onde os monges trabalhavam os textos, frio e incómodo, para evitar distrair quem ali trabalhava (escrever ou ler), tinha por vezes "catafetário" (fornalha) onde os monges aqueciam as mãos. O trabalho, gratuito, executado em silêncio, era dedicado ao Senhor que depois daria a recompensa aos executantes. O copista não teria consciência que a caligrafia, evoluía com os diferentes tipos de letra que iam aparecendo dando lugar a amplo leque de possibilidades caligráficas.
Gutenberg ao inventar em 1468 a tipografia (impressão com letras móveis em relevo) acrescentou um capítulo importante à maravilhosa aventura de partilhar o conhecimento. A descoberta permitiu democratizar o Saber em partilha com um crescente número de leitores, pois o livro deixou de ser objecto de luxo, apenas acessível a gente abastada, passando a ser património universal.

Para saber mais
- MEMÓRIA, La História de cerca, nº 7, Iluminados Medievales, 2007

- RASQUILHO, Rui, Cister e a Europa, Santa Maria de Alcobaça, 2007

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