I
– GENERALIDADES
A
eminencia dum conflito leva possíveis contendores a procurar conhecer
antecipadamente o local do confronto assim como a conduta previsível do adversário,
para cada um poder neutralizar os pontos fortes do antagonista e
simultaneamente rentabilizar os seus a seu favor. o propósito e conseguido pelo
conhecimento atempado de varies assuntos:
-
Inimigo (armamento, composição, disciplina, efectivo, instrução, etc.);
-
Terreno (pode condicionar, dificultar ou impedir a conduta beligerante como também
orientar a utilização dos sistemas de armas a utilizar);
-
clima ou condições meteorológicas (capaz de dificultar ou impedir o controlo
das forcas em operações, como afectar o uso do equipamento ).
A
escolha do local do afrontamento, "campo de batalha", importante e
complexa, e condicionada por múltiplos factores como a finalidade da acção, condições
do terreno e itinerários a utilizar, linhas de abastecimento (livres e
adequadas) e previsível conduta do adversário. O local materializa o objectivo
decisivo, antecipadamente escolhido e estudado, onde cada beligerante procura
aproveitar o terreno a seu favor, numa acção que exige a melhor coordenação dos
meios utilizados. A forca no confronto tem três momentos distintos:
"antes" (preparação)," durante" (luta), "depois"
(fuga), que quando considerados permitem o seu correcto entendimento no cenário
envolvente.
A
batalha Real (de Aljubarrota) a Sul da Batalha e exemplo elucidativo. O
deslocamento de grupos armados, por norma evitado, e condicionado e inseguro
por diversos factores (segurança, velocidade, comodidade). O percurso da hoste
portuguesa de Tomar a Porto de Mós, designado por residentes mais antigos, de
Itcaminho de D. Nuno " tem duas etapas (Tornar-P. de Mós) e (P. de Mós - Porto
da Cevada) no vale do rio Lena, que considerou:
-
o património viário romano edificado na Península Ibérica (218A.C. - 711);
-
caminhos compatíveis com a movimentação do apoio logístico das forcas;
-
respeito pela verdade histórica e memoria de alguns residentes;
Os
tópicos aliados a consulta documental e trabalho de campo (estudo,
reconhecimento e observação do terreno aliado ao revestimento vegetal).
Aprendemos
o passado colectivo numa perspectiva geral conforme a época, por regra alheia
ao desempenho local, que pode impedir uma pesquisa alargada, conforme aos
factos ocorridos.
II-
ANTECEDENTES
D.
João de Castela em finais de 1384, apos levantar o cerco a Lisboa, conduziu as
forcas no regresso por Bombarral, Santarém, Golegã, Tomar, Chão de Couce,
Miranda do Corvo, Coimbra, Celorico da Beira, Guarda e Fuenteguinaldo em
Castela. Regressava irritado por ter fracassado a acção guerreira que comandara
para derrubar D. Fernando e conquistar o reino de Portugal. O desconforto
provocado por elevadas baixas sofridas pela acção dos heróicos defensores,
agravadas pela peste, que sem piedade dizimara o exercito real. Enraivecido
prometeu vingar-se sem demora no povo que ousara opor-se asua vontade, causara
desonra e provocara tanta dor. As derrotas em Atoleiros, Trancoso e ter falhado
a conquista de Elvas, que julgara de conquista rápida e fácil, não impediram a decisão
de invadir Portugal pela Beira Alta. Decidido a garantir a decisão de vingar o
desaire sofrido e obter o apoio de conselheiros contraries reuniu o conselho
real em Ciudad Rodrigo (Castela) para cimentar a decisão de invadir Portugal.
Procurou
convencer todos que a acção seria de passeio, não de confronto, pois iriam
encontrar gente desunida, sem comando, mal armada, que face a exército tao
poderoso e imponente fugiria a sete pés. Iniciou a invasão a meio de Junho, por
Almeida, Pinhel, para próximo de Trancoso seguir para Celorico da Beira, onde
instalou o comando para redigir o testamento e definir os sucessivos objectivos
da marcha de invasão. Retomou a 1 de Agosto a marcha lenta, pela margem direita
do Mondego (Fomos de Algodres, Mangualde, Oliveira do Conde, Mortágua,
Mealhada) para Coimbra onde atravessou o rio, quase seco, por debaixo da ponte.
O movimento do enorme exército invasor condicionado pelo apoio logístico de
dois trens em que o "real", dianteiro, composto por 700 carretas e o
"geral", traseiro, de inúmeras azémolas com mantimentos, armamento, coisas
para comer, vender e também rebanhos com mais de 8.000 cabeças de bois, cabras
e ovelhas.
D.
João I de Portugal, reunido em Abrantes com reduzidas forcas, mandou chamar com
urgência D. Nuno para afrontar o invasor nos eventuais eixos de penetração,
pelo Alentejo (Estremoz, Avis, Bemposta e Abrantes) ou pela Beira interior
(vale do Mondego).
D.
Nuno acudiu rápido e reuniu com o conselho real que era de opinião evitar-se o
confronto com o invasor, invencível pelo tamanho e aparato, e aconselhava
el-rei fazer estragos "talar os campos" na Andaluzia para obrigar o
atacante a ir de imediato a sua terra em defesa da sua gente e do que era seu.
Agastado pela postura, contraria ao compromisso real feito em Guimarães
"fazer frente aos invasores", partiu com a hoste para Tomar, 7 de
Agosto, para afrontar D. Juan de Castela.
D.
João e D. Nuno com as suas forcas, apos assistirem a missa na capela de S. Lourenço,
junto ao rio Nabao, a saida de Tomar, "concertaram as suas batalhas"
conforme os "olardos" (revistas), sendo os combatentes distribuídos
por capacidades, aptidões e os capitães colocados nos lugares mais
convenientes, decididos a honrar o compromisso real de Guimarães na Irmandade
de Nossa Senhora da Oliveira. A hoste portuguesa saiu de Tomar a 11 de Agosto,
sexta-feira, para a via romana "Olissipo-Bracara Augusta" dando inicio
a I etapa do "caminho de D. Nuno" (Tomar- Porto de Mas).Era apoiada
logisticamente por 200 carretas, 1.300 azémolas de carga e tiro e 1.500
solipedes de sela que condicionavam o deslocamento.
Tomou
o caminho mais curto, compatível, discreto, a evitar "esculcas"
(vigias) castelhanas para passar despercebido:
-
Carregueiros;
-
Sabacheira (assinalada com ponte datada de 1667;
-
Seiya (templo onde D. Nuno rezou a Virgem, na ida e na volta);
-
Ourem (ponte romana, utilizada pela Ala dos Namorados):
-
Atouguia das Cabras na planície de Alveijares sinalizada pelas minas da capela
de S. Sebastião incendiada pelos franceses em 1810. A hoste de postos de observação
colocados no cimo dos montes mais elevados.
Realizou-se
então o reconhecimento para os lados de Leiria que residentes designam por
"Caminho de D. Nuno", IT etapa, (porto de Mós- Porto da Cevada), vale
do rio Lena, onde o caminho teria sido:
-
Descida do "castelo' para a "ponte do cavaleiro' (não transposta);
-
marcha para jusante (cerca de 200 m) com saída a direita (caminho rural) que
seguia "por cabeços altos);
-
ponte romana (1) cia Freixa, sobre a ribeira da Freixa;
-
via romana (1) enterrada junto a Casal do Menezes;
-
ponte romana (1) do Coito, sobre a Ribeira de Alcanadas;
-
quinta do Pinheiro;
-
casal de Centas e Brancas, salinas famosas no reinado de D. Sancho I, que podem
ter dado origem ao "caminho do sal" utilizado por carroças com
pescado vindo da costa.
Será
justo salientar o percurso do vale do Lena pela beleza, reduzida extensão
(cerca de 6 km), diversa riqueza histórica e patrimonial em que destacamos a
ponte do cavaleiro, românica do seculo XIII.
PARA
SABER MAIS
MONTEIRO,
Antonio de Almeida, o voto de el-rei D. João I antes da batalha real, Grafica
de Coimbra 2, 2011;
SANTOS,
Victor Portugal Valente dos, Campo de batalha, lugar de memoria, dissertação de
mestrado da FLUL, 2011
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