"Ala dos Namorados" pela nossa terra e pelas nossas damas |
1. Panorama sociopolítico
da Europa no seculo XIV
A Europa ocidental teve
entre o séc. XII e séc. XIV (inicio) um período de vincado crescimento,
progresso e bem-estar, que permitiu um aprofundamento sistematizado no
pensamento e cultura de cada região, evidentes das torres altaneiras das
catedrais góticas, símbolo de poder e abastança, consequente do aumento da área
cultivada, crescimento urbano, intensificação das relações comerciais e
crescimento das populações. A situação contudo entre 1 300 -1 400 piorou
dramaticamente devido a crise múltipla (económica, social e politica) agravada
por diversos factores. o séc. XIV interrompeu o bem-estar laboriosamente construído
ao longo dos seculos, com prejuízo na harmonia entre pessoas, cidades e países,
provocando situações de conflitualidade e agitação na sociedade. o espaço rural
espelhava então uma sociedade marcadamente agrícola de "trabalhadores da
terra", obrigados a irem viver para a cidade, onde já havia
"mesteres" (profissão manual) em excesso, para fugirem a
arbitrariedade injusta dos senhores rurais. Surgiu assim um desequilíbrio insuportável
entre o valor dos salários e o custo de vida, espelhado com dor no mundo rural,
que levou os mais pobres a procurar refugio nas cidades e provocou graves e
frequentes períodos de fome.
A situação, agravada pela
guerra dos 100 anos ", lesou com particular ferocidade o rural
desprotegido, dependente do dono e senhor da terra, que para subsistir aumentou
as rendas. o campesinato recém "homem livre" voltou a ser ameaçado
por servidão violente e sem futuro. O panorama urbano apresentava em consequência
aspecto quizilento devido a situação comercial e industrial extremar posições
entre os poderosos senhores burgueses, detentores do capital, face a crescente multidão
de artífices assalariados, pobres, vitimas da perturbação social da época. A
luta dos preços provocou luta desapiedada nos mercados europeus, deu origem a
conflitos graves entre empregados e empregadores, duros na década de oitenta,
pela agressividade da gente do campo iniciada na luta politica. Em termos globais
a mudança social afectou os universos envolvidos (senhorial, urbano e rural)
caracterizou a violenta vivência urbana do séc. XIV com a formação de bandos
rivais em luta desapiedada, empenhados em tumultos frequentes pelo domínio do
poder autárquico. o cenário, preocupante pelo retrato social, foi agravado por
novos factores, alguns dos quais queremos nomear:
- "Surtos da peste
negra na Europa (1348 e 1360)" que reduziram muito o panorama demográfico
(até 2/3 do valor anterior) da população europeia com evidentes consequências
na actividade do universo laboral da época;
-"Grande Cisma do
Ocidente (1378-1417)", provocado pelo papa Clemente VII ter ido para a
vinha enquanto o Papa Urbano VI ficava em Roma, que evidenciava grave divisão
no seio da Igreja Católica. O facto deu origem a enorme confusão nos espíritos
da época que dividiu a cristandade em dois mundos antagónicos, privando a
Europa da principal forca aglutinadora que ate ai a tinha orientado e
consolidado;
- "Abertura de
universidades laicas" que retirou exclusividade do ensino a Igreja,
enfraquecendo-a ainda mais. A novidade não contribuiu para serenar e esclarecer
os espíritos na vertente religiosa.
2. Consequências no reino
Portugal, pais pequeno,
distante e periférico dos centros de decisão europeus, sentiu as alterações
verificadas além-fronteiras, reflectidas na conduta da gente do reino. o facto
ajuda a entender o desenvolvimento e consequências do Tratado de Salvaterra de
Magos, a 2 de Abril de 1383, desencadeadas pela morte de D. Fernando, a 22 de
Outubro de 1383, que deram origem a período de grande violência social evidente
na crise de 1383-1385, que revelava linbas de fractura na coesão do reino. A revolução
desencadeada pela sucessão deste rei cresceu em fases sucessivas, levando a
considerar necessária e urgente a morte do conde Andeiro, que Álvaro Pais, rápida
e astutamente, procurou disfarçar com oportuna intervenção popular para
transformar a conspiração palaciana em insurreição publica dos mesteirais de
Lisboa. O confronto alastrou-se a todo o reino opondo o "povo miúdo"
a alcaides e homens bons, em que os primeiros conquistaram castelos, expulsaram
notáveis mesmo quando clamavam serem pelo partido do mestre. A revolta, vinda
dos centros urbanos, alastrou com rapidez ao campo onde a "raia miúda"
desempenhou papel decisivo no acontecimento.
O reino profundamente
dividido, pois enquanto a norte, de autoridade senhorial mais forte, aceitava
sem grande oposição o tratado de Salvaterra de Magos, a sul no Alentejo e
Algarve, se assumia quase na totalidade, decididamente, o partido do Mestre em oposição
aquele tratado. A vitória que garantiu a independência de Portugal, duramente
conquistada no campo de S. Jorge, foi de imediato reconhecida como triunfo
colectivo da Nação, face a enorme ameaça exterior. Assumiu significativo reforço
O ''juízo de Deus", em que ajustiça divina garantia a vitória a "quem
tinha a razão por si”, legitimando com evidencia o reconhecimento do mérito do
mestre de Avis e justiça da causa pela qual lutavam as forcas que o apoiavam,
D. João I de Portugal,
vencedor real de Aljubarrota ao assumir e exercer logo o poder como chefe de
uma Nação que se descobrira em momenta crucial e de grande perigo, conduziu ao
estabelecimento de uma sociedade revigorada que permitiu a Portugal ter início
de nova etapa colectiva face ao futuro.
PARA SABER MAIS
DAMIAO, Historia de
Portugal, 1928;
LAPA, Quadros da Cronica
de D. Jõao I, 1939;
SARANA, 1385 Inicio.
Crise Geral III, 1988;
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