III
- A batalha de Atoleiros
D.
Fernando ao morrer a 22 de Outubro de 1383, marcou tempo de forte crise de nacionalidade,
que exigia urgente confirmação da reconquista da independência de Portugal que
originou o compromisso patriótico de D. Nuno Alvares Pereira.
A
aclamação nas cortes em Coimbra do mestre de Avis como D. João I, rei de
Portugal, determinou a nomeação real de Nuno Alvares Pereira como fronteiro-mor
do Alentejo que deu início imediato apresada tarefa de realizar a independência
do reino de Portugal. O anúncio de nova incursão castelhana pela fronteira do
Alentejo obrigou a ida urgente do jovem mas valoroso condestável para a área
atingida. Em Estremoz teve conhecimento que o invasor, numeroso, tinha
conquistado a vila do Crato com o apoio do prior da vila seu irmão. As notícias
vieram dificultar o desempenho da missão real que recebera de defender
Portugal, pois a comitiva era reduzida e pequeno o reforço vindo (Elvas e Beja)
apesar de repetidamente pedido.
A
dificuldade da situação levou D. Nuno a confirmar a companheiros a forte
vontade de cumprir a obrigação assumida perante EL-Rei, mesmo que para tal
tivesse de com armas na mão enfrentar familiares. Conduziu depois a hoste a
caminho de Fronteira, recebendo a meio da etapa um emissário enviado pelo irmão,
que vinha propor a desistência pessoal em troca de
grandes
regalias. Afirmou em resposta forte e pronta "que havia gana de pelejar"
(vontade de combater). Retomou logo a ida para Atoleiros "uma meia légua
mais ou menos aquem de Fronteira, um bom sitio para pelejar". Fernão Lopes
em "Cronica de D. João I" refere o local do confronto, olival quase
plano, encostado a local pantanoso. D. Nuno ao chegar fez apear os homens de
armas, preparou o terreno, dispôs da melhor maneira a forca que dispunha de
trezentas lanças, mil homens de pé com cem besteiros na "vanguarda",
"reguarda" e "alas", direita e esquerda, tendo o cuidado de
colocar besteiros e homens de pé, enquadrados por experientes homens de armas
"onde entendeu que melhor estariam para bem pelejar". Afastado da sua
gente, montado numa mula, empunhando a bandeira, face ao atacante, segura e
tranquilo da forca da sua razão, fez a incitação final a companheiros e
reafirmou a vontade de cumprir o compromisso que assumira ao rei de Portugal.
Com o inimigo avista, apeou, ajoelhou e solicitou protecção divina. Finda a oração,
beijou a terra, pôs-se de pé, montou, armou-se de lança e gritou para todos
"amigos que ninguém duvide de mim ".
O
embate, anunciado pelos contendores com brados de guerra "Santiago" por
Castela e "S. Jorge" por Portugal, deu inicio ao ataque castelhano em
que os grandes de Castela lanearam de longe, sem tardanca, as montadas sobre o
reduzido mas corajoso oponente. O invasor, numeroso e melhor armado, convencido
de triunfo fácil e rápido atacou impetuosamente, mas logo começou a sofrer
baixas causadas por projécteis certeiros que do interior do quadrado os ia
atingindo. Poucos conseguiram chegar as lanças onde se foram espetar, conforme
relata Fernão Lopes "...Na primeira tentativa morreram quarenta homens de
armas, depois outros quarenta e sete. Dos portugueses nenhum foi morto ou
ferido ".. .. " ...A frente da orgulhosa forca castelhana tomou-se um
amontoado confuso e na retaguarda a cavalaria dava meia volta e fugia
desordenadamente para não voltar". Os fugitivos procuravam justificar a
fuga dizendo entre si "homem uma vez desbaratado, mal torna, outra vez a batalha".
A forca orgulhosa castelhana, desorientada, foi perseguida ate ao anoitecer. D.
Nuno e companheiros, terminado o confronto foram matar a sede na "ribeira
das águas belas".
A
batalha de Atoleiros, 6 de Abril de 1384, decisiva no fortalecimento da independência
do reino, foi brado irreprimível que ecoou na Europa clamando sem temor que
Portugal teria de ser ouvido pois reiniciara a identidade como Povo, Nação e
Reino. O confronto de significado invulgar por a vitória ser portuguesa contra
inimigo bastante superior em número e armamento, mas também por D. Nuno em
atitude decidida e arguta, de forte liderança, ter provado merecer a confiança
dos companheiros. Vamos referir factos que parecem confirmar o local onde se
deu o confronto:
-
"A cronica do Condestabre de Portugal", documento antigo, refere que o
local na época era designado por "folha da consciência",
correspondente possível ao referido campo;
-
Foi designado durante seculos por" monte de Atoleiros", não existindo
outro na região com igual nome;
-
Escavações realizadas encontraram armas, moedas e pulseira que poderão estar
relacionadas com o confronto.
Para
saber mais
ANÓNIMO,
Autor, Cronica do Condestavel de Portugal D. Nuno Alvares Pereira,
1947;
BAIÃO,
António, Biografia do Santo Condestavel,1952;
LOPES,
Fernão, Cronica de D. João I, 1972.
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