A Europa no séc. XIV foi palco de graves calamidades, provocadas por intolerância humana como "guerra dos 100 anos " que opôs a França à Inglaterra, "conflitos regionais" entre Itália e Alemanha, acção de bandos mercenários" que apavoraram muita gente, "cisma do Ocidente" entre os papas de Avinhão e Roma, agravadas por flagelos naturais como
seca, fome e sobretudo peste negra, "pandemia trágica de peste bubónica", dolorosa e mortífera, que alterou bastante a conduta medieva e obriga a referência algo circunstanciada.
Aportou à Sicília, 1347, em barcos do Oriente, espalhou-se e iniciou rápida infecção de pessoas, peste bubónica, com pulgas do agressivo rato preto de Caffa (Rattus rattus) do sopé dos Himalaias e Grandes Lagos Africanos. A acção do
roedor foi continuada por outro, cinzento e tímido, (Rattus norvegicus) que originou o aparecimento doutras epidemias, peste pneumónica, que em dois anos dizimaram quase
metade da população europeia, cerca de 75 milhões. O flagelo, desde o séc. XIV, considerado castigo divino pelos pecados do mundo, surgiu em ocorrências súbitas. O número
de mortes, grande e rápido, complicou o enterro de milhares de corpos, incomportáveis para a terra sagrada das igrejas,
que obrigou a edificar templos em cemitérios onde eram empilhados como qualquer mercadoria.
O cenário foi relatado por Giovanni Boccaccio, "Decâmeron", na cena dantesca dos infectados com dolorosos "bubões"
(inchaços) nas axilas e virilhas, do tamanho de maçãs ou ovos, corpo e língua com feridas negras, inúmeras manchas escuras ou lívidas, hemorragias subcutâneas, falência do sistema do sistema nervoso e morte em três dias. O mal por ignorância e ausência de remédio matava sem distinção.
O famoso cirurgião Guy de Chauliac, médico do Papa Clemente VI, sobrevivente e morador em Avinhão, também registou de modo tocante a desumanidade da situação. A
mortandade teve início em 1348 em duas fases. Os primeiros meses (2) traziam febre, depois expectoração sanguinolenta e morte em três dias. Os doentes vivos sofriam febre, inchaço nas axilas, virilhas e morte em 5 dias. O contágio, virulento e rápido, levava ao isolamento rompendo laços consanguíneos e
caridade familiar. O desconhecimento da causa da tragédia levou à acusação dos judeus que queriam envenenar todos. O medo agravado por irracional desespero não impediu o registo de factos edificantes, 1619, por pessoal médico, "médico da peste" que se dispunha, com risco pessoal a ir atender
infectados, com roupas e máscaras de protecção (túnica até aos pés, luvas, máscara de pássaro, chapéu), impedir a proximidade dos enfermos, receitar à distância e lancetar os
bubões com facas que podiam ter cerca de 1,8 m.
Iniciada na península Itálica, espalhou-se pela Europa, atingiu Grã-Bretanha e Portugal,1348, e Escandinávia, 1350.
Os maiores surtos europeus foram a "febre espanhola" (1596-1602) que matou um milhão de espanhóis, a "peste italiana" (1629-1631), a "grande praga de Londres" (1664-1665) e a
"grande peste de Viena" (1679). A última ocorreu na Ucrânia e Rússia (1877-1889) com 420 mortes por medidas oportunas
e apropriadas de contenção.
II - PENÍNSULA IBÉRICA
A peste manifestou-se em Portugal em 1348 (Outono), matou certa de metade da nação e marcou profundamente o mundo do trabalho, obrigou a convocar as cortes de 1352 para restaurar a ordem profundamente afectada. A morte do
rei D. Fernando, ser deixar filho varão, provocou a "crise de 1383-1385" que seria uma das consequências.
Nunca se tinha manifestado na Península Ibérica mas voltava sempre que havia gerações não imunes, como em 1569,1650 e 1899 (Porto), até ao séc. XVII. É oportuno referir que cada epidemia matava os indivíduos "susceptíveis" e poupava os
imunes, o que explica a mortandade castelhana aquando do cerco a Lisboa na III guerra fernandina. A existência de nova geração não imune, numerosa, provocava o retorno do mal noutra epidemia.
A peste humana, transmitida no contacto com roedores infectados, onde as pulgas recolhiam a bactéria no sangue, que quando mortos levava à procura doutros hospedeiros, A infecção também se propaga pela inalação de gotas (espirros
ou tosse) de indivíduo doente.
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