sábado, 12 de março de 2016

XVII - A Padeira de Aljubarrota

A PADEIRA DE ALJUBARROTA
I - ANTECEDENTES
O entardecer de 14 de Agosto de 1385 foi dramático para a gente que combateu do lado de Castela em fuga atabalhoada de S. Jorge, em todas as direcções, para se salvar das vitoriosas forcas de Portugal, comandadas pelo condestável D. Nuno Alvares Pereira.
A batalha Real (de Aljubarrota), terminada pouco depois das dezanove horas, levou a fuga os derrotados que procuravam aproveitar o aconchego protector da noite na pausa da perseguição dos vencedores, que ficavam no campo de batalha, em cumprimento de importante regra da luta feudal, a recomendar ao triunfador a permanência por setenta e duas horas, três dias, no local da contenda a disposição do antagonista. Os combatentes que não tinham tornado parte da refrega buscavam salvação na fuga em direcção a Leiria (Norte), pelo caminho utilizado na invasão. Outros escolheram o Sul mas foram dizimados a ponte do rio Chiqueda pelas milícias de D. Joao de Ornelas, abade de Alcobaça e os restantes aflitos procuraram, por vezes sem sucesso, misturar-se com a população local.


II - A PADEIRA DE ALJUBARROTA
A situação confusa poderá ter criado condições para o aparecimento da lenda duma padeira de Aljubarrota, que teria morto a pazada sete castelhanos refugiados no seu forno do pão. Uma análise rápida do relato aponta alguma improbabilidade, salvo se os fugitivos, armados, preparados para a guerra, estivessem tao cansados, desorientados, famintos, temerosos, que não teriam oferecido resistência ao ser atacados por uma mulher.
É oportuno perguntar se a personagem teria existido. Escritos antigos referem que Brites de Almeida, humilde, algarvia de Faro, desde menina se fazia notar pelo feitio belicoso. Ainda rapariga tomou-se eximia praticante do jogo do pau, que permitia desafiar quem lhe desagradava, pois ficava quase sempre vencedora das lutas que provocava. Com a idade tornou-se uma mulher antipática, magra, alta, muito ágil, resistente, de feições desagradáveis onde se destacava a boca enorme, olhos brilhantes como carvões, com a particularidade de ter seis dedos em cada mão.
A venda duma pequena casa, herdada do pai, permitiu estabeleceu-se como negociante de gado, junto a raia de Castela, onde conquistou a alcunha de tubaroa (permanente) por participar em inúmeras zaragatas. Mais tarde como almocreve (transportador de fazenda em bestas de carga) fugiu para Espanha acusada de ter cometido crime de sangue. Capturada foi encerrada numa prisão em Lisboa e libertada por a polícia não ter conseguido provar o crime de que era ré. Liberta refugiou-se em Valado de Frades e depois na aldeia de Aljubarrota onde conseguiu, talvez pela forca, emprego numa padaria, que por falecimento da dona ficou sua.
Entretanto decorria nas imediações a batalha Real entre castelhanos e portugueses. O povo miúdo, acompanhava com ansia o desenrolar do confronto, que muito ''folgou'' (alegrou-se) quando soube da derrota e fuga dos invasores que atacou para muitos ferir e matar. Julga-se que padeira para aproveitar a situação tenha assumido a chefia dum grupo e praticado "larga obra de extermínio". Ao voltar a casa encontrou sete castelhanos escondidos no forno a tentar escapar a furia popular que teria morto com a pá do forno com pancadas em cutelo.

III - CONCLUSOES
O acontecimento partilhado, fantasia ou mito, aparentemente sem referencia histórica, serve para retirarmos algumas conclusões:
- a padeira de Aljubarrota, provável lenda popular do séc. XV, simboliza a vontade dos portugueses em serem independentes isto e donos do próprio destino. A vontade irmana o colectivo de Portugal, independentemente de idade, riqueza, instrução e estatuto social no presente e no futuro comum;
- será importante e necessário que na circunstancia actual a nossa vontade fosse manifestada com igual determinação, inteligência e responsabilidade, auto exigente, em pratica de trabalho qualificado e bem feito . Terá que ser projecto colectivo, sem excepção de idade ou função, na escola, em casa, no emprego, com os outros numa conduta plena de cidadania para sermos capazes de pôr o interesse colectivo acima do pessoal.

PARA SABER MAIS
- Azevedo, Filipe da Silva e CARTA A respeito d heroina de Aljubarrota Imprensa Académica 1880. Lisboa.
- Ferreira, Eduardo Marrecas ALJUBARROTA Pequena Monografia Lisboa Nas "Oficinas Fernandes" MCMXXXI

- Lopes, Fernão CRÓNICAS DE D. JOAO I Livraria civilização

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