A
PADEIRA DE ALJUBARROTA
I
- ANTECEDENTES
O
entardecer de 14 de Agosto de 1385 foi dramático para a gente que combateu do
lado de Castela em fuga atabalhoada de S. Jorge, em todas as direcções, para se
salvar das vitoriosas forcas de Portugal, comandadas pelo condestável D. Nuno
Alvares Pereira.
A
batalha Real (de Aljubarrota), terminada pouco depois das dezanove horas, levou
a fuga os derrotados que procuravam aproveitar o aconchego protector da noite
na pausa da perseguição dos vencedores, que ficavam no campo de batalha, em
cumprimento de importante regra da luta feudal, a recomendar ao triunfador a permanência
por setenta e duas horas, três dias, no local da contenda a disposição do
antagonista. Os combatentes que não tinham tornado parte da refrega buscavam salvação
na fuga em direcção a Leiria (Norte), pelo caminho utilizado na invasão. Outros
escolheram o Sul mas foram dizimados a ponte do rio Chiqueda pelas milícias de
D. Joao de Ornelas, abade de Alcobaça e os restantes aflitos procuraram, por
vezes sem sucesso, misturar-se com a população local.
II
- A PADEIRA DE ALJUBARROTA
A
situação confusa poderá ter criado condições para o aparecimento da lenda duma
padeira de Aljubarrota, que teria morto a pazada sete castelhanos refugiados no
seu forno do pão. Uma análise rápida do relato aponta alguma improbabilidade,
salvo se os fugitivos, armados, preparados para a guerra, estivessem tao
cansados, desorientados, famintos, temerosos, que não teriam oferecido resistência
ao ser atacados por uma mulher.
É
oportuno perguntar se a personagem teria existido. Escritos antigos referem que
Brites de Almeida, humilde, algarvia de Faro, desde menina se fazia notar pelo
feitio belicoso. Ainda rapariga tomou-se eximia praticante do jogo do pau, que
permitia desafiar quem lhe desagradava, pois ficava quase sempre vencedora das
lutas que provocava. Com a idade tornou-se uma mulher antipática, magra, alta,
muito ágil, resistente, de feições desagradáveis onde se destacava a boca
enorme, olhos brilhantes como carvões, com a particularidade de ter seis dedos
em cada mão.
A
venda duma pequena casa, herdada do pai, permitiu estabeleceu-se como negociante
de gado, junto a raia de Castela, onde conquistou a alcunha de tubaroa (permanente) por participar em inúmeras
zaragatas. Mais tarde como almocreve (transportador de fazenda em bestas de
carga) fugiu para Espanha acusada de ter cometido crime de sangue. Capturada
foi encerrada numa prisão em Lisboa e libertada por a polícia não ter
conseguido provar o crime de que era ré. Liberta refugiou-se em Valado de
Frades e depois na aldeia de Aljubarrota onde conseguiu, talvez pela forca,
emprego numa padaria, que por falecimento da dona ficou sua.
Entretanto
decorria nas imediações a batalha Real entre castelhanos e portugueses. O povo miúdo,
acompanhava com ansia o desenrolar do confronto, que muito ''folgou''
(alegrou-se) quando soube da derrota e fuga dos invasores que atacou para
muitos ferir e matar. Julga-se que padeira para aproveitar a situação tenha
assumido a chefia dum grupo e praticado "larga obra de extermínio".
Ao voltar a casa encontrou sete castelhanos escondidos no forno a tentar
escapar a furia popular que teria morto com a pá do forno com pancadas em
cutelo.
III
- CONCLUSOES
O
acontecimento partilhado, fantasia ou mito, aparentemente sem referencia histórica,
serve para retirarmos algumas conclusões:
-
a padeira de Aljubarrota, provável lenda popular do séc. XV, simboliza a vontade
dos portugueses em serem independentes isto e donos do próprio destino. A
vontade irmana o colectivo de Portugal, independentemente de idade, riqueza, instrução
e estatuto social no presente e no futuro comum;
-
será importante e necessário que na circunstancia actual a nossa vontade fosse
manifestada com igual determinação, inteligência e responsabilidade, auto
exigente, em pratica de trabalho qualificado e bem feito . Terá que ser projecto
colectivo, sem excepção de idade ou função, na escola, em casa, no emprego, com
os outros numa conduta plena de cidadania para sermos capazes de pôr o
interesse colectivo acima do pessoal.
PARA
SABER MAIS
-
Azevedo, Filipe da Silva e CARTA A respeito d heroina de Aljubarrota Imprensa Académica
1880. Lisboa.
-
Ferreira, Eduardo Marrecas ALJUBARROTA Pequena Monografia Lisboa Nas
"Oficinas Fernandes" MCMXXXI
-
Lopes, Fernão CRÓNICAS DE D. JOAO I Livraria civilização
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